Meu primeiro artigo de 2021: minhas histórias e causos pessoas com as Escolas Técnicas e com as Fatec’s. Dedicado aos mais jovens e aos não moradores de São Paulo.
Não vou falar muito da origem das ETEC’s ou Escolas Técnicas aqui em São Paulo. Porém posso falar algumas coisas para contextualizar:
- As primeiras ETEC’s se chamavam ETI’s, ou Escolas Técnicas Industriais e surgiram nos anos 60;
- O modelo das ETI’s foi fortemente baseado nas Escolas Técnicas da Europa, especialmente da Alemanha e da Espanha;
- Na Espanha (e acredito eu em outros países europeus) os jovens que terminavam o primeiro grau (ensino fundamental) poderiam escolher entre um segundo grau (ensino médio) acadêmico com vistas a fazer faculdade, ou um segundo grau técnico para obter uma profissão e ingressar no mercado de trabalho. Por causa disso…
- As Escolas Técnicas faziam trocas de disciplinas. Por exemplo, no segundo ano ao invés de aulas de química e biologia, disciplinas técnicas eram aplicadas. Para alguém estudando mecânica ele poderia ver projetos de motores, e um aluno de eletrônica veria microprocessadores;
- Além disso outras disciplinas eram reforçadas, especialmente matemática. Era bastante comum ter pré cálculo já no segundo ano, chegando muitas vezes às derivadas e até mesmo integrais;
- Nos anos 80 (?) as ETI’s viraram ETE’s, ou Escolas Técnicas Estaduais. A mudança no nome fazia sentido pois os cursos tinham sido ampliados para áreas como Automação de Escritório e Secretariado, Processamento de Dados e outros;
- Em algum momento dos anos 90/2000 – final dos 90 provavelmente – as ETE’s viraram ETEC’s, talvez para combinar com as FATEC’s (Faculdades de Tecnologia);
- Para entrar em uma ETI / ETE / ETEC era e ainda é necessário fazer um vestibulinho. Até os meados dos anos 90 esse vestibulinho era dissertativo, ou seja, vc. tinha que escrever as respostas, nada de alternativas;
- A maioria das ETI / ETE’s ficavam no ABC Paulista, na capital e em grandes cidades do Interior. Também nos anos 90 e 2000 ocorreu um boom de instalação das escolas e faculdades;
- Em particular das faculdades em vários casos era aproveitado um prédio ou bloco de Escolas Técnicas grandes, isso ocorreu com algumas ETE’s do ABC, como a Julio de Mesquita e Lauro Gomes;
- Em algum momento dos anos 2000, o curso técnico foi separado do segundo grau ou ensino médio. Assim é possível fazer apenas o curso técnico e/ou apenas o segundo grau, mas isso varia de curso para curso e de instituição para instituição;
- Por sinal, o número de ETEC’s e FATEC’s cresceu bastante durante os anos 2000. Não sei se isso foi acompanhado de aumento da verba destinada a elas;
- Muitos cursos das ETEC’s tinham equivalentes nas FATEC’s, muitas vezes com exatamente o mesmo nome;
- Finalmente, enquanto as universidades e escolas estaduais tradicionais são vinculadas à Secretaria Estadual de Educação, as ETEC’s e as FATEC’s são vinculadas ao Centro Paula Souza, uma autarquia estadual que, por sua vez, é vinculada à Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado.
Com isso podemos ir para os causos. Vamos começar com um simples. Eu tenho um histórico de sedentário e, por causa disso, sempre me aventurei nos esportes. Certa vez fui no clube da cidade para passar o tempo e jogar bola, mas precisamente basquete. Me sentindo o próprio Scott Pippen arremessei a bola para fazer uma cesta. A bola bateu no aro e voltou para mim. Em vez de segurar com as mãos, tentei segurar com o dedo mínimo de uma das mãos… Nem preciso dizer que o meu dedo virou em um movimento de quase 180°. Não senti nada específico na hora (os poderes mágicos da adrenalina), meu dedo chegou a ficar preto (roxo), tive que colocar tala. Era o dedo da mão esquerda e eu sou destro. O que isso tudo tem a ver com a ETE? Isso aconteceu faltando uma semana para o vestibulinho e, como está no item 8 acima, a prova era dissertativa. Se eu tivesse usado a mão direita para tentar segurar a bola, não teria conseguido fazer a prova e muitos dos causos aqui presentes não teriam acontecido.
Provavelmente farei outras partes deste artigo, por isso vou encerrar com mais um causo, que aconteceu não apenas comigo mas com praticamente todo mundo que fez ETE. Entre os anos 80 e 90 era comum as empresas do ABC contratarem o pessoal das escolas técnicas ao invés de contratar gente com diploma de graduação. Além de serem mais baratos, os formados pelas escolas técnicas tinham um conhecimento mais prático do que os egressos das faculdades e principalmente das universidades. Por conta disso sempre houve uma rixa entre as faculdades / universidades e as escolas técnicas.